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“Deixo ao leitor a divertida tarefa de espantar-se item após item, perceber a fraqueza de cada afirmação e a má intenção nela presente. Não resisto, porém, a falar da transparência. Na verdade, transparência é tudo o que os grandes conglomerados não desejam e não praticam.”
Parte 2 de 3 sobre a mão invisível do mercado.
O intérprete de tal absurdo é o jornalista Merval Pereira em seu artigo “Mercado e democracia”. E não para aí. Entre outras barbaridades, cita:
- A impessoalidade do mercado sai sempre mais barata para o contribuinte. “Goste-se ou não, o mercado é a forma mais eficiente e influente de expressão da opinião pública.”
- “Quanto mais distantes do mercado estiverem as relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção.”
- A contribuição mais relevante do economista austríaco liberal Friederich Hayeck “é o seu papel de defensor dos mercados, como insuperável transmissor de informação e estimulador da criatividade, onde se pode encontrar a mais coerente e fundamentada análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estado.”
- Quem vai terminar com a sociedade do privilégio é a economia de mercado, e não é outro o motivo pelo qual a estabilização, a abertura, a desregulamentação, e a privatização geraram tantas tensões.”
- A economia de mercado, “é subversiva numa sociedade do privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a meritocracia, e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um Estado cheio de vícios.”
Uma das contestações a este monte de besteiras que assolam a economia liberal foi apresentada no último post e diz simplesmente que elas não têm respaldo teórico e sim ideológico. Para aprofundar a questão nada melhor do que uma breve referência ao pensamento de Hayeck, apresentado adiante.
A outra contestação é sobre o perigoso vínculo entre a mão invisível do mercado e a democracia, como se esta fosse fruto daquele. Apesar de absurdo evidente, convêm aprofundar a questão, o que será feito no próximo post.
Deixo ao leitor a divertida tarefa de espantar-se item após item, perceber a fraqueza de cada afirmação e a má intenção nela presente. Não resisto, porém, a falar da transparência. Na verdade, transparência é tudo o que os grandes conglomerados não desejam e não praticam.
A bem de Hayeck, seus escritos refletem uma era de confronto entre o mundo socialista e o capitalista e onde o planejamento estatal aparecia com divisor de águas.
Seu principal livro, o “Caminho da servidão”, foi lançado na década de 40 do século passado. Nele expressa a ideia de que se o Estado controlar completamente a economia, controlará a vida das pessoas, privando os indivíduos de suas liberdades.
Para Hayeck, a economia é um sistema complexo demais para ser planejada apenas por uma instituição central e deve evoluir espontaneamente, a partir do livre mercado, sem intervenção do Estado. As economias de planejamento central, segundo ele, impõem a visão de uma pessoa, restringindo a liberdade individual de se comunicar e também a capacidade das empresas de fazer comércio.
Tal antagonismo, na verdade muito mais político do que econômico, é apresentado de forma um pouco diferente e não menos interessante pelo professor Pedro Cezar Dutra Fonseca em seu artigo “A controvérsia entre metalismo e papelismo e a gênese do desenvolvimentismo no Brasil”, já dentro de uma perspectiva mais recente e aplicada ao caso brasileiro:
O desenvolvimentismo, segundo ele, pode ser entendido “como a ideologia de transformação da sociedade brasileira assentada em um projeto econômico voltado à industrialização como via de superação da pobreza e do subdesenvolvimento.”
E continua: “A análise do discurso desenvolvimentista permite que se afirme que um de seus pontos centrais reside em perceber a história como um processo em construção, de responsabilidade da ação dos homens e, mais especificamente, dos governos, os quais devem nortear sua práxis em políticas efetivas visando a um futuro desejável.”
O discurso é inspirado em Saint Simon e, principalmente por Comte, pai do positivismo e seu discípulo. Para esta corrente: “o liberalismo nascente era responsável pelo aumento da pobreza decorrente da Revolução Industrial e a desestruturação das comunidades feudais, e propunha a substituição dos desígnios do mercado por decisões conscientes e planejadas.”
Se em algum momento tal debate teve alguma razão de ser, no mundo de hoje, não tem mais nenhuma. A discussão é outra. Trata-se não mais em optar entre a “liberdade” de ação e o controle estatal, e muito menos do estado ajudar a sociedade a realizar seus desejos. Trata-se, sim, ao contrário, em buscar os meios para que a sociedade exerça seu domínio sobre o estado.
Vale observar que o sistema representativo não cumpre este papel e não se confunde com democracia. Ele só tem sentido se for um instrumento subordinado e contido pela sociedade. Aí sim, liberdade, igualdade e fraternidade que são desde a Revolução Francesa os grandes pilares da democracia serão a referência para as decisões.
E é neste ambiente que a sociedade poderá fazer frente aos desafios ambientais, às desigualdades sociais e ao desejo de mais bem estar de uma população que não para de aumentar e que, prevê-se, chegará a 9 bilhões em 2050.
3 de setembro de 2014 às 15:42 pm
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